domingo, 20 de julho de 2014

Por falta de educação em ciências, brasileiro dispensa bula e corre riscos - Folha de S. Paulo

Atire a primeira pedra quem nunca se desfez rapidamente da bula de um novo medicamente antes de armazená-lo. A prática de ignorar a bula dos remédios é velha conhecida da cultura brasileira. O que especialistas dizem é que o problema está relacionado com a nossa educação. Como o ensino de ciências no Brasil é muito ruim, classificado no final da lista de países avaliados pelo exame internacional Pisa, ninguém entende as bulas e, por isso, não se interessam por elas. Quer ver? Vamos pegar a bula da aspirina, um remédio consumido internacionalmente. ÁCIDO ACETILSALICÍLICO Sua bula informa que cada comprimido tem 500 mg de ácido acetilsalicílico e que os componentes inertes são amido e celulose. Digo com segurança que a maioria dos brasileiros nunca ouviu as palavras entre aspas, mas consome aspirina (sem ter ideia do que está ingerindo). O problema é que a bula da aspirina informa também que a sua ingestão aumenta o risco de sangramento. Isso pode ser fatal para pacientes, por exemplo, com dengue reincidente, que costuma causar hemorragias. A bula da aspirina também alerta que os comprimidos devem ser armazenados na sua embalagem original, em temperatura ambiente, entre 15 a 30°C e protegidos da umidade. Opa! Mas não tem um monte de gente que armazena medicamentos justamente no local mais úmido da casa, ou seja, o banheiro? Pois é. O medicamento pode, por exemplo, perder o efeito. SEM BULA Esse problema do descarte das bulas é conhecido pelas indústrias farmacêuticas. Em visita recente a uma das fábricas da Pfizer no Brasil, que produz medicamentos como o Advil, o coordenador da logística, Reinaldo Oliveira, contou que a maioria dos medicamentos que retorna à fábrica por problemas chega sem bula. Sabemos que a bula é a primeira coisa que o usuário joga fora ao abrir o remédio, diz Oliveira. A taxa de retorno à fábrica de medicamentos Pfizer é de 0,2%. Podem voltar à fábrica comprimidos que, por exemplo, mudaram de cor ou de consistência o que pode acontecer quando se armazena um medicamento como a aspirina no banheiro. A pergunta que fica é: o que fazer para que as pessoas leiam mais as bulas e corram menos riscos? INTERESSE Bom, as pessoas precisam se interessar pelas bulas. E sabe-se que o interesse pela ciência e a educação científica caminham juntos. Em um trabalho publicado em 2010 por um grupo de pesquisa do qual faço parte na Unicamp, vimos que a leitura de bulas de remédios e de rótulos de alimentos aumenta quando o interesse declarado pela ciência é maior. A pesquisa foi feita no estado de São Paulo para uma publicação da Fapesp com base em um questionário (veja aqui os resultados da pesquisa). Vejam que bacana: 69,3% dos que declaram que se interessam muito por ciência também informaram que leem bulas de medicamentos. A rotina de ler bulas cai conforme o interesse por ciência diminui. E, adivinhem: Daqueles que frequentaram ou frequentam ensino superior e ou outros níveis superior de ensino, 71,7% declaram que leem bulas de remédios. A relação entre escolaridade, interesse por ciência e leitura de bulas de remédios, evidenciada nesta pesquisa, mostra o quanto educação e saúde caminham juntos. Uma sociedade com melhores níveis de educação está mais preparada para entender e lidar com sua própria saúde. Endereço da página: http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2014/06/25/por-falta-de-educacao-em-ciencias-brasileiro-dispensa-bula-e-corre-riscos/ Links no texto: aqui http://www.fapesp.br/indicadores/2010/volume2/cap12.pdf

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